ESPELHO
Olho-me no espelho no final do
corredor, querendo saber quem sou... uma pergunta concreta para uma procura abstrata para me
encontrar em uma certa noite sem estrelas e onde a lua perdeu o luar...
Dispo-me de preconceitos e vulgares
ambições e me perco nas entrelinhas dos caminhos... solto um grito lancinante que
se perde nas encruzilhadas para chegar ao infinito... sou uma voz que se cala
sem respostas para todas as perguntas... uma boca que engole silêncios...
Sou um olhar num rosto vazio... uma
madrugada fria esperando o sol... um barco naufragado num mar de ondas
encrespadas... Sou a Dama da Noite... flor noturna que murcha no final das
madrugadas.
Sou uma gazela esperando o caçador com
o medo estampado no olhar, quando meu corpo cansado se arrasta em labirintos
sombrios procurando a saída dos sonhos vazios numa noite sem luar...
Sou feita de esperas, mágoas e
saudades... meu fado é triste e magoado... com um passado sem tréguas...
perdido nas recordações da vida que ficou nas brumas do tempo descolorido...
uma ausência de chegadas e partidas... um rosto marejado de lágrimas amargas.
O mundo não é perfeito... todo o mundo
tem o seu fado triste e magoado... nem todos são perfeitos... cheirosos...
bonitos... ricos e felizes, mas tem dias que sinto ao meu redor o aroma de
rosas e avelãs... tem dias que sinto na boca o sabor do mel de doces manhãs...
tem dias que me olho no espelho do final do corredor e me sinto a obra prima
dum artista sonhador... com um final feliz dum belo romance de amor.
By@