AFAGO A
SOLIDÃO...
Afago a solidão no silêncio do
meu quarto, vazio do teu corpo... vazio de orgasmos... vazio de amor... e nas ausências
dos beijos molhados procuro a noite... que se esconde na penumbra das sombras
fugidias... mas não há noites tão longas que não encontrem os dias... e os dias
são difíceis... e as noites são longas... e as nuvens pesam e a chuva cai... a
chuva cai nos meus olhos gota a gota... e lágrimas desaguam no mar salgado das
minhas desilusões até encontrarem as
ondas douradas que transbordam de todo o luar...
Afago a solidão como quem morde o
silêncio duma alma nua... como quem dança um triste tango de Gardel... ou uma contradança
antiga numa noite sem luar... como quem se perde num labirinto sombrio e onde ninguém
o pode achar... e ao longe apenas o som dum bater de asas duma borboleta quase
moribunda que procura um lugar para descansar...
Afago a solidão quando a dor dum
sonho desfeito veste meu corpo de angústias... quando a nostalgia se transforma
em mortalha talhada na pedra dura do fracasso... quando o desprezo se mistura
em ausência de desejos... quando me escondo na secura amarga duns falsos
beijos... nas carícias não sentidas... e nas lágrimas jorradas dum rosto
enrugado pelo relógio do tempo que continua marcando o seu fatídico compasso
nos ecos duma saudade...
Afago a solidão quando fecho os
olhos e sinto o mar acariciando meu corpo sedento do teu... quando as ondas
batem suavemente na areia e desnudam minha alma carente dum pouco mais de
calor...
Afago a solidão quando os raios
da lua cheia salpicam meu rosto de purpurina doce... quando lembro teu nome e o
desenho na areia que o mar sempre apaga e me deixa apenas com as lembranças...
e com as mágoas que se enraizaram no imo das palavras por dizer...
Afago a solidão quando as
tristezas são o refúgio das ilusões perdidas... quando as lágrimas são uma
certeza de saudades perfumadas de desejos contidos numa noite sem estrelas... e
onde a lua perdeu o luar...
E no silêncio vazio do meu quarto
vazio, adormeço nos braços envolventes da saudade... beijo teu corpo nu nas
sombras nuas das paredes nuas do meu quarto nu e frio... e sonho com o momento
em que, num êxtase de paixão, acaricio esse corpo sem rosto... sorvo esses
beijos sem boca... mergulho-me nesse olhar azul do céu dos meus desejos...
acaricio tua pele imaginária e escaldante que queima os meus sentidos...
embebedo-me com o vinho doce que verte das tuas lágrimas amargas... vibro com
as tuas mãos acariciando os recônditos das minhas ilusões... e por fim me afogo
no desvario dos nossos corpos molhados de suor e com a ternura dum quente beijo
me deixo envolver nos teus abraços imaginários... e adormeço afagando a
solidão...
By@