MADRUGADAS... de Amor
Faz-se tarde amor... e as horas rubras
sufocantes... queimam o ar que respiro e me sufoca... e quanto desassossego existe nas horas mortas
do fim de tarde... e o meu peito arde... e tu me persegues como se fosses a minha
sombra na madrugada... a sombra que ocupa os meus pensamentos nas horas amargas
da madrugada... e o tempo que teima em correr... e eu deixo fluir meus sonhos...
como se neles pudesse voar... e os meus sonhos ocupam toda a madrugada...
ocupam toda a dimensão do meu pensamento no silêncio da madrugada...
O sereno vai caindo com a brisa da madrugada...
e vai deixando o odor a terra fresca com gosto de saudade... que afaga o
vagalume com golpes frescos... e ele brilha... brilha... doce... como um favo
de mel... rebrilha e pisca... sentindo o aroma suave do rosmaninho na
estrada... e nós abraçando as estrelas somos peregrinos das horas mortas...
trazemos as loucuras escondidas nas transparências da madrugada...
Como é tarde amor... e quantas recordações
guardo dos abraços que um dia se perderam nas longas noites de espera pela
realidade ou quimera... e não sei mais inventar uns braços de fortes abraços...
que prenderiam meu corpo... que vai, sem rumo, perambulando pelas vielas
estreitas... pelas horas escondidas nos recônditos escuros da madrugada...
Envolvemos a alma que já está cansada da longa
espera ... a incerteza do instante em que tão perto e tão distante... nos traz
o cheiro da madrugada... quente e doce das frutas e das flores... das mangas e
das margaridas... das amoras e das maçãs perfumadas de rosas e de jasmins... a
madrugada desce pela calada da noite... com seu manto de cetim...
E é já tão tarde meu
amor... e continuo perambulando no silêncio das horas caladas... dum
destino sem luz... nas madrugadas do meu eterno tormento onde deixo depositado
todo o meu descontentamento.
E
a tua sombra vai deslizando errante de bar em bar... numa noite de lua cheia...
querendo beber todo o luar...
E é já tão cedo meu amor... a lua afagou mais uma
madrugada fria com seu doce encanto e agora só nos resta esperar o nascer do dia...
e a Dama da Noite com seu perfume doce... também nos espera... ela nos quer
envolver com o resto do seu aroma para fechar suas pétalas e adormecer... até
renascer na próxima madrugada...
Ao longe um bêbado vai entoando e improvisando uma
canção:
“- Triste madrugada foi aquela... que eu perdi
meu violão... ela não quis minha serenata... e eu quebrei meu coração...”...
By@