HISTÓRIA DUMA MULHER...
Há
por esse mundo uma mulher que sofre e luta contra a angústia dum passado
magoado por indiferenças... desilusões e saudades... revoltada contra um mundo
de traições e tempestades... que teve a sua vida roubada por alguém que a
abandonou ao desatino da sorte e por egoísmos cruéis e desleais... em seu peito
cravou trágicos punhais de indiferença e desdém.
Quantas
mulheres por esse mundo sofrem no silêncio do seu quarto pela falta dum carinho...
dum abraço... dum toque duma mão em seu ombro... duma palavra que ficou por
dizer... dum beijo dado com amor... duma ternura fraterna, esquecida num
labirinto de emoções... com tantos sonhos e recordações que se vão esfumando na
penumbra do tempo?
Quantas
mulheres se entregaram para alguém que as desiludiu... que as maltratou com
palavras e gestos... com ausências e esperas... com vazios sem espaços... com
silêncios e demoras... caminhando sozinhas por vielas escuras e estreitas...
com alguém do seu lado... mas sempre ausente... tão perto do nada e tão longe
de si?
Como
todas essas mulheres que existem algures por aí clamando por carinho... justiça e palavras de ternura, jamais ouvidas...
querendo um pouco mais de calor e da atenção do seu amor...
Existe
uma mulher sozinha que desceu à vida na madrugada... que a Triste Mágoa chamou
de filha... e que num dia coberto de fria geada... foi abandonada numa estrada
sem trilha...
Existe
essa mulher que se rebela contra um caminho incerto... em busca de algo que lhe
roubaram da vida... e sempre caminhando vai perambulando por estradas sem
fim... rasgando o seu corpo nas pedras da calçada... dilacerando os seus sonhos
nas arestas pontiagudas das paredes nuas do seu pensamento...
Existe
essa mulher que, no acaso do tempo, teve quase tudo o que desejou... filhos...
carinhos... amor... que, por um mau acaso dos homens... ficou sem os seus bens
mais preciosos... por imposições e vinganças... ficou do outro lado da vida... ao
sabor do tempo e dos julgadores mais impiedosos... sem poder fazer as suas
escolhas... de mãos atadas... engolindo silêncios... sendo julgada...
maltratada... ignorada...
No
meio dessas tantas mulheres... existe essa mulher que solta seus gritos...
abafa seus medos... engole seus silêncios... e chora lágrimas de saudade pelas recordações
dos seus queridos estampados nos retratos inertes... e que lhe foram
roubados... com a sua vida roubada...
Por
entre tantas mulheres... existe uma mulher que implora pelos restos das
migalhas do pão que o diabo amassou... que se veste de esperança... tentando
ser várias... em várias de si... porque só a vida que lhe sobrou não lhe basta... porque a chama de Deus
crepita dentro de si... porque ainda acredita que a sua desdita chegará ao
fim... e a Fé em Deus e não nos homens... lhe dará novos passos... lhe trará novas
esperanças... novos anseios... e matará as saudades dos saudosos abraços... dos
carinhos dos seus amados... das recordações guardadas dentro de caixas amassadas
pelo esquecimento do tempo e que dilaceram o seu coração.
Será
que alguém conhece por entre essas mulheres... a mulher que chora e se agita...
que se revolta... que grita... no seu silêncio magoado... que canta o seu fado
triste e angustiado... implorando pela justiça de Deus... já que a dos homens
tudo lhe tirou... e em troca pouco ou nada lhe doou?
–
Essa mulher que engole silêncios e tempestades... desilusões e saudades...
querendo resgatar o que é seu... pois bem, essa mulher sou eu!
By@